Os cientistas da NASA estão perplexos sobre o que pode ter causado as marcas vermelhas, que se assemelham a imensos "arranhões de gato" em Tétis, uma das inúmeras luas de Saturno. A sonda Cassini-Huygens (mais conhecida apenas como sonda Cassini) capturou imagens de "estrias avermelhadas" que atravessam uma parte da superfície, com um fomato arqueado até então inexplicável, como se fosse um grafite feito por um artista desconhecido.
Tétis é uma pequena lua com cerca de 1.062 quilômetros de diâmetro, que orbita a 294.660 km de Saturno, e seu nome foi inspirado na mitologia grega. Foi descoberta por Giovanni Domenico Cassini, um matemático, astrônomo, astrólogo e engenheiro italiano, no ano de 1684, usando um "telescópio aéreo" que ele mesmo montou na época no Observatório de Paris.
Imagens foram registradas usando diversos tipos de filtros espectrais, tais como cristalino, verde, infravermelho e ultravioleta, e foram combinados para realçar as cores a partir do que estava sendo observado. Isso permitiu que fossem evidenciadas sutis diferenças de cor em toda a superfície de Tétis, em comprimentos de onda não visíveis aos olhos humanos. Os arcos vermelhos são estreitos e curvos sobre a superfície da lua, e estão entre as características de cor mais incomuns das luas de Saturno, que já foram reveladas pelas câmeras da sonda Cassini. Eles se estendem por milhares de quilômetros na superfície de Tétis.
Foto divulgada pela NASA de Tétis, uma das luas de Saturno
Alguns dos arcos vermelhos podiam ser vistos de forma bem discreta, em observações realizadas no início da missão, sendo que a sonda está orbitando Saturno desde 2004.
Entretanto, as imagens em cores obtidas a partir da observação realizada no mês de abril deste ano, são as primeiras a mostrar grandes áreas do norte de Tétis sob condições de observação e iluminação necessárias para que eles fossem vistos claramente.
Conforme o sistema de Saturno passou para o verão no hemisfério norte, ao longo dos últimos anos (um ano em Saturno, por exemplo, equivale a quase 30 anos na Terra), as latitudes setentrionais tornaram-se cada vez mais iluminadas. Assim sendo os arcos se tornaram claramente visíveis.
"Os arcos vermelhos realmente saltaram aos nossos olhos quando vimos as novas imagens", disse Paul Schenk, um cientista do Instituto Lunar e Planetário, em Houston, EUA, que participa da missão.
"É surpreendente o quão extensos eles são", completou.
A origem desses arcos, e a cor avermelhada são um mistério para os cientistas da missão Cassini. As possibilidades que estão sendo estudadas incluem ideias que o material avermelhado seria gelo exposto com impurezas químicas ou o resultado da liberação de gases do interior de Tétis. Eles também poderiam estar associados a outras características como fraturas na superfície, que estão em baixa resolução considerando as imagens disponíveis.
Na mitologia grega, Dione (a lua maior) era filha de Tétis (a lua menor),
talvez não seja surpresa ver as duas epônimas luas juntas no céu
Com exceção de algumas pequenas crateras em Dione, outra lua de Saturno, tais características, como se algo estivesse em um tom avermelhado, são raras em outras luas de Saturno. Entretanto, tais particularidades aparecem na superfície geologicamente jovem de Europa, uma das luas de Júpiter.
"Os arcos vermelhos devem ser geologicamente jovens, porque eles atravessam características mais antigas da superfície, como as crateras de impacto, mas não sabemos precisar a idade em anos", disse Paul Helfenstein, um cientista da missão Cassini, da Universidade de Cornell em Nova Iorque, EUA, que ajudou a planejar as observações.
"Se a mancha for apenas uma fina camada, colorida no solo gelado, a exposição ao ambiente espacial em relação a superfície de Tétis, pode apagar os arcos em uma escala de tempo relativamente curta", completou.
A equipe da missão Cassini pretende continuar observando esses arcos, dessa vez com maior resolução, no fim deste ano.